Após o estrondoso sucesso do longa O Exorcista (1973), baseado no livro homônimo de William Peter Blatty, David Seltzer recebeu a ligação de um produtor de Hollywood interessado em produzir um filme do gênero e propôs a Seltzer a criação de um roteiro à altura do sucesso visto na produção do estúdio concorrente.
David Seltzer jamais havia lido atentamente textos bíblicos, tampouco tinha algum conhecimento sobre ocultismo e demônios, mas aceitou a tarefa de criar uma história que serviria de base para este novo filme. Assim nascia um dos grandes clássicos literários — e cinematográficos — de horror: A Profecia (1976).
A obra esteve durante décadas fora de catálogo no Brasil, mas foi resgatada e relançada pela editora Pipoca & Nanquim em 2019. A nova edição, lançada pela editora, conta com capa dura, projeto gráfico impecável, excelente tradução, além de alguns conteúdos extras que complementam a história principal.
A história se inicia num hospital em Roma, no momento em que o embaixador norte-americano Robert Thorn toma a difícil decisão de trocar seu filho natimorto por um órfão recém-nascido. Apenas ele e o padre que cuida da adoção não oficial sabem do fato. Nem mesmo Kathy, mãe do bebê morto, sebe da troca. O órfão, um menino lindo e perfeito em todos os sentidos, é batizado de Damien. Cinco anos depois, já na Inglaterra, uma série de incidentes trágicos e misteriosos faz com que Thorn comece a suspeitar de que seu filho é algo mais do que aparenta… e suas investigações colocam em risco o próprio destino do mundo.
A trama envolvendo a chegada do anticristo ao mundo pode parecer clichê hoje em dia, já que diversos filmes, séries e livros já exploraram a temática. Mas nos anos 70 esse era um tema em alta, por conta do sucesso de produções como O Exorcista, e isso não é suficiente para reduzir a importância da obra de Seltzer, muito pelo contrário.
Apesar de ter se aventurado por temas que antes tinha pouco ou nenhum conhecimento, David Seltzer criou uma obra singular, abordando de forma intrínseca o horror envolvendo o ocultismo em cada capítulo de A Profecia. O autor agrega várias pequenas peças que deram certo em O Exorcista, adiciona novos elementos que dão mais personalidade e profundidade à sua obra e cria uma história com elementos tão marcantes que inspiraria diversas outras nas décadas seguintes.
Ao longo de toda a trama, são apresentados trechos bíblicos, inseridos nomes de entidades demoníacas e é construída uma atmosfera banhada por uma aura assustadora, capaz de deixar o leitor inquieto pelo desfecho da trama e o destino de cada um dos personagens apresentados. A sensação de que algo muito grave está por vir cresce a cada página lida, a cada ação tomada por algum personagem e a cada linha em que conectamos os fatos com algo lido anteriormente.
Tudo isso é resultado de uma trama bem trabalhada, com ápices viscerais e perturbadores que fazem de A Profecia uma obra essencial e indispensável na estante, física ou virtual, de qualquer fã de livros de horror.