C. S. Lewis havia expandido seu fantástico mundo para florestas, bosques, montanhas, desertos. O próximo passo era óbvio, o mar. As Crônicas de Nárnia: A Viagem do Peregrino da Alvorada se diferencia de seus antecessores como um título bastante autoral da saga. Não só pelo fato de termos uma aventura marítima, mas pelo fato de termos várias pequenas aventuras dentro desta, quase em um formato mais livre.
A falta de fé de Eustáquio
Antes de falarmos mais sobre o formato em que a história é contada, precisamos primeiro falar sobre a base dela. Edmundo e Lúcia estão passando as férias na casa de seu primo, Eustáquio. O problema é que o garoto se mostra não só arrogante e pretensioso, mas também um cético que desacredita em Nárnia.
Porém, são todos puxados de volta para este mundo através de um quadro dos pais de Eustáquio em um dos quartos de sua casa. Eles acabam parando no mar, onde são resgatados pelos marinheiros de um navio, e logo descobrem que estão na presença do próprio Caspian, agora rei; ele partiu para desbravar os mares em busca dos sete fidalgos que seu maligno Tio Miraz enviara anteriormente.
No seu Peregrino da Alvorada, ele viaja com alguns fiéis companheiros, tais como Ripchip, um rato espadachim; logo, os três garotos se veem parte da tripulação.
Ao longo da jornada, há um certo conflito entre Eustáquio e todos os outros personagens. Enquanto passam por ilhas, mercadores sujos, sereias e dragões, Eustáquio mantém sua personalidade desprezível perante todos ali, inclusive Nárnia.
A mensagem é clara, Eustáquio não tem fé em Nárnia e nas maravilhas que ela esconde. Obliterado por sua ignorância, mesmo enquanto experimenta grandes aventuras. Aqui, a tão famosa alegoria religiosa de Lewis é mais esperta e sútil. Óbvio que, ainda há Aslam e toda a questão de seus poderes mitológicos, mas é algo muito menos na cara do que anteriormente.
A forma que o núcleo de Eustáquio é resolvido decepciona. Claro que, Lewis faz o possível para manter um desenvolvimento consistente em um livro infantil, mas é fato que ele simplesmente não tinha tempo, interesse ou disposição para arrastar essa interação conflitante do personagem pelo resto da trama.
As aventuras do Peregrino da Alvorada
Se afastando um pouco de Eustáquio, temos aqui uma personificação da vontade de Lewis de escrever seu “Hobbit“. Ao longo do livro vamos passando por vários problemas episódicos, geralmente com alguma mensagem a ser entregue aos leitores, majoritariamente infantis, mas agradando leitores na totalidade.
O desenvolvimento de mundo também é algo trabalhado de forma bastante orgânica. Vemos relances dos problemas que o reino de Caspian está enfrentando, tais como escravidão, mercadores corruptos, lordes malvados. Mesmo que ocupem apenas uma pequena porção da história, essas pequenas introduções de assuntos mais pesados são bem-vindas.
Lewis esperava que a maioria de seus leitores estivessem mais crescidos na época. Portanto, a maioria dos personagens, como Pedro e Susana, não retornam. Invés disso, temos um aprofundamento maior em um Edmundo mais crescido, esperto e responsável, e uma Lúcia que encara o mundo de forma mais madura.
É gratificante saber que esses personagens realmente se desenvolveram. Anteriormente essas raízes de suas psiques eram rasas, não tão profundas, ou semeadas o suficiente. Crescemos com eles, aprendendo e constantemente retornando a Nárnia.
Veredito de As Crônicas de Nárnia: A Viagem do Peregrino da Alvorada
Em As Crônicas de Nárnia: A Viagem do Peregrino da Alvorada temos um equilíbrio agradável entre personagens e mundo. Claro que há certos aspectos da narrativa que poderiam ser melhor trabalhados, mas, de forma geral, esse é um livro que prende leitor. É um bom capítulo da saga. Contudo, ainda não é o melhor que ela pode oferecer.