Dirigido por David Gordon Green, Halloween Ends chega aos cinemas nesta quinta-feira (13). O longa encerra essa nova trilogia, que iniciou em 2018 e estabeleceu uma nova linha do tempo para a saga Halloween. Mas, será que esse tão esperado encerramento é digno, a ponto de ser um dos melhores filmes de terror do ano e fechar essa saga tão amada com chave de ouro?
No filme, Laurie Strode (Jamie Lee Curtis) finalmente decide seguir sua vida após os traumas causados por Michael Myers (James Jude Courtney). Por coincidência, ela acaba conhecendo Corey (Rohan Campbell), que viveu um infeliz acidente onde todos o culpam. Michael está desaparecido há quatro anos, e uma nova onda de assassinatos começa a acontecer.
Halloween Ends e o abraço à novas ideias
O filme já abre com uma cena absolutamente perturbadora, onde somos manipulados por uma falsa presença de Myers. Logo aqui, já temos a introdução do que seria o novo protagonista e a temática central do filme. A ideia de falar sobre o mal, por si só, combina com Halloween; mas, dessa vez, de uma forma externa e ampla, indo além de somente ”Michael Myers, o mal encarnado”.
Essa história mostra a maldade como uma infecção, que desde o retorno de Michael, em 2018, se impregnou em Haddonfield. Mas, e se as pessoas sempre foram assim? Essa discussão sobre como as histórias são distorcidas e usadas convenientemente para julgar alguém, trazem um peso maior no desenvolvimento dos personagens principais e mostram como esse trauma pode assolar de vez a cabeça de alguém.
Embora o filme crie situações fajutas para ilustrar isso, se passando em um mundo onde absolutamente todos são desprezíveis e só aparecem para verbalizar a babaquice, pelo menos, no primeiro ato, ele mostra como Laurie e Allyson lidaram com os eventos dos dois últimos filmes; subvertendo uma expectativa e mostrando que elas tentaram viver de uma maneira saudável, mesmo que a dor volte ocasionalmente.
Nesse sentido, há uma determinada escolha no filme, que, com certeza, é o que vai definir se muitas pessoas vão gostar ou não. Existe uma transição corajosa e condizente nessa história, que, sinceramente, é muito bem-vinda. Em algum momento isso é previsível, pois o filme tem um foreshadowing logo no começo, com uma determinada vestimenta; além de uma mudança mais evidente: a quebra de um objeto e a consequência de um visual propositalmente diferente.
Sobre as mortes: se nos filmes anteriores elas eram mais gore e faziam questão de mostrar a dor do início ao fim, neste filme elas são mais contidas. Com poucas exceções, elas parecem até mais ”envergonhadas”. Nem sempre as vemos, pois a montagem já corta para a pessoa morta; mesmo quando vemos, há alguns desfoques e pouco uso da sanguinolência.
Um bom encerramento?
É engraçado como praticamente toda a divulgação do filme foi entorno do desfecho do confronto entre Michael e Laurie. E o filme não constrói absolutamente nada para isso. A nova concepção que o filme apresenta traz vida a uma diferente história daquela que vínhamos acompanhando para, no final, ser descartada e voltar com esse embate que já não fazia mais sentido dentro desse contexto. Assim, a estrutura fica desbalanceada, apelando até para flashbacks sem motivo. Ao menos, a luta é bacana e dá para sentir cada golpe dado.
Aliás, se tirássemos o Michael Myers dessa história, o filme iria ficar melhor. A potência do personagem foi elevadíssima nos últimos dois filmes, principalmente em Kills. Mas parece que nunca decidem o que ele realmente é: uma figura sobrenatural ou simplesmente um homem. Sua presença nesse filme é literalmente fraca, ele parece um cachorro cansado e não entendemos como isso pode ter acontecido após ele sobreviver a coisas tão absurdas. Por que ele está assim, exatamente? E, se ele é vulnerável, como pode ter quase feito aquilo no final? Toda a mitologia fica desconjuntada nesses novos filmes, embora dê para dizer que esse é realmente o final.
É admirável como Jamie Lee Curtis gosta de estar nesse filme. Mesmo estando mais velha, sua energia contagia qualquer um. Ela realmente gosta da Laurie Strode. Muitos de seus olhares em cena dizem pelas palavras não ditas, além de a atriz ser completamente badass. Inclusive, algumas homenagens ao filme original funcionam bem. Andi Matichak também parece confortável, embora sua personagem raramente sirva à história e tenha as decisões mais questionáveis possíveis.
Portanto, Halloween Ends apresenta boas ideias, mas sofre com uma constante indecisão sobre o que contar, talvez daqui a algum tempo ninguém mais comente a respeito. Há boas surpresas e subversões, embora o filme se sabote em muitos momentos. Está na hora desta franquia descansar por um tempo, mesmo que essa história mostre que é possível expandir para além de Michael Myers.