Dirigido por Olivia Wilde, Não Se Preocupe, Querida chegou aos cinemas brasileiros nesta quinta (22). Após o sucesso de Booksmart, sendo a estreia na direção de Wilde, seu novo projeto naturalmente gerou uma guerra entre os estúdios para adquirir os direitos, acabando nas mãos da New Line Cinema.
Com supostas polêmicas envolvendo os bastidores, o longa já causou burburinho muito antes de ser lançado oficialmente. Isso, desde a substituição de Shia LaBeouf por Harry Styles no papel de Jack, até o ”silêncio” de Florence Pugh na divulgação do filme. Muitas das suposições não ficaram realmente claras, mas despertaram a atenção do público em relação ao projeto. Mas será que o resultado foi satisfatório?
No filme, Alice (Florence Pugh) é uma dona de casa que vive em uma comunidade de alta classe. Vivendo com seu marido Jack (Harry Styles), ela começa a suspeitar que a empresa onde ele trabalha possui segredos perturbadores. Suas crenças de que algo influencia diretamente não só na sua vida, mas também na de suas vizinhas, aumentam cada vez mais.
Não Se Preocupe, Querida e seu mundo ”ideal”
Logo nos primeiros minutos, o filme apresenta o centro de sua premissa: uma vida feliz e ideal. Muito dessa idealização se deve à classe estabelecida para essas pessoas, onde as casas são grandes e espaçosas, os personagens estão sempre bem vestidos e a rotina romantiza a tal felicidade. O homem da casa trabalha e a mulher segue com atividades domésticas, vivendo em prol dele e está sempre no mesmo círculo de amizades.
Porém, sabemos que esse modelo tradicional e regrado de vida deixou de ser comum há muito tempo, mesmo que ainda tenha quem pense assim. Pois, no lugar de Alice, ela fica presa às situações em que não necessariamente se sente feliz, mas devido à convenção social, ela deve se sentir de tal forma. Por isso as cores desse condomínio, dos ambientes, objetos e roupas são tão chamativas, para trazer essa sensação alegre e otimista; além disso, esses elementos compõem uma época mais antiga e nos despertam a dúvida: será que a história realmente se passa nesse período de fantasia ou é apenas uma máscara para algo mais sombrio?
Dessa forma, a rotina de Alice se torna extremamente repetitiva para quem assiste, o que faz sentido dentro da proposta, afinal, ela passa a sentir isso também. Então, a base para o mistério que a história mostraria é bem interessante, já que consiste em uma artificialidade fácil de ser quebrada, claro, com o domínio da criatividade.
Florence Pugh em projetos anteriores se mostrou excelente, e aqui não é diferente. Ela vive esse papel com intensidade e verdade nos olhos, as incertezas de sua personagem são impecavelmente entregues em suas expressões, ela sabe como externalizar o desespero. O mesmo não pode ser dito de Harry Styles, que a todo momento parece estar passando falas de um roteiro e raramente trazendo algum tipo de convencimento, além de sua química com Pugh ser zero.
Uma sensação esquisita
O senso de estranheza que se estabelece dada a uma vida ilusória percebida por Alice, certamente poderia ser mais sutil no roteiro. O filme não apresenta nada realmente original, na verdade, ele remete muito a obras como: O Show de Truman, WandaVision e Matrix. E caso essas aplicações fossem bem realizadas, isso não seria necessariamente um problema.
Muitas vezes, há o abuso de uma expositividade barata e situações apelativas. Ele de fato cria uma curiosidade, sobre o que realmente está acontecendo. E apesar de a revelação ser interessante, ela acaba beirando o superficial, assim como diversos outros elementos na história. Ter boas ideias não é o bastante se não houver um bom desenvolvimento delas, ao invés disso, temos flashs recorrentes na tentativa de ser algo mais surreal e experimental, que não possuem substância alguma.
O personagem de Chris Pine, por exemplo, não serve para nada. As vidas das vizinhas/amigas de Alice não são bem exploradas na trama e dificilmente teremos cenas em que a direção cria alguma atmosfera de suspense ou tensão. A própria Alice poderia ser uma personagem mais sagaz em suas atitudes após as desconfianças. Porém, ela faz com que todas informações venham à tona da pior forma. Assim, os momentos que poderiam ser urgentes e catárticos não chegam perto disso.
Portanto, Não Se Preocupe, Querida sempre acaba desejando ser mais, mas nunca é. Apesar de ele prender a nossa atenção na maior parte do tempo, muito acaba ficando vago e com um mau desenrolamento. Um visual chamativo, uma base naturalmente incomodativa e uma trilha musical bem escolhida não sustentam uma trama mal arquitetada e um elenco deslocado.