Dirigido por Baz Luhrmann, Elvis finalmente chegou aos cinemas brasileiros. O longa ousa em contar a história de um dos maiores e mais cativantes astros do rock: Elvis Presley. Mas será que esta cinebiografia é um frescor e está à altura do artista ou simplesmente cai no vale da mesmice?
No filme, a vida de Elvis Presley (Austin Butler) é contada através dos olhos de seu enigmático empresário, o coronel Tom Parker (Tom Hanks). Essa complexa relação entre os dois dita desde a ascensão do astro, até a sua decadência, tendo como pano de fundo a perda da inocência na América.
Elvis e o brilhantismo de Baz Luhrmann

Em 2022, com tantas cinebiografias já feitas, como um idealizador pode usar sua assinatura para trazer algo novo, sem igual? Baz Luhrmann responde isso em suas quases 3 horas dirigidas de Elvis.
Da mesma forma que uma ”falsa câmera” passeia de diversos ângulos pela Paris e pelo Moulin Rouge, ele traz isso agora para Las Vegas e para o hotel onde Elvis morava. Do mesmo jeito que ele demora a mostrar o Gatsby em O Grande Gatsby, aqui ele constrói a apresentação de Elvis de maneira que evite mostrar seu rosto, preparando seu grande primeiro show para o público do filme e o fora dele.
Absolutamente todos os shows são revigorantes e espetaculares. Não existe receio em mostrar músicas inteiras sendo performadas, além de outros pontos de vista que já conhecemos. Uma enganação perfeita é Austin Butler cantar algumas canções, para quando ouvirmos o Elvis de fato, não haver um estranhamento; afinal, você já está convencido.
E mesmo sem uma linha cronológica, saímos desse filme sabendo absolutamente toda a vida do Elvis. Além da narração, Luhrmann aproveita sua criatividade para contar essa história de diversas outras formas, como por exemplo, através uma HQ. A própria concepção de o coronel Parker nos contar essa história momentos antes de morrer ajuda nessa viagem não natural aos olhos.
As transições de cena podem ser extremamente orgânicas, assim como também podem brincar com algo que ainda nem aconteceu. A montagem se mostra muito refinada e aparenta ter sido dificultosa, afinal, ela conjunta inúmeras coisas em simultâneo e tem o dom de não fazer o espectador ficar confuso. Os momentos em que existem a mistura do verdadeiro Elvis com o do filme, ficamos surpresos sobre o que é real e o que não é. Mais uma bela enganação!
Elvis, um grande e esforçado tributo

Austin Butler é uma força estrondosa da natureza, sua atuação é primorosa. A energia e entrega dele são contagiantes, ele nos convence desde a primeira frase dita, sua entonação de voz está idêntica a de Elvis. Mas o que mais chama a atenção é sua fisicalidade no palco, onde ele transcende um nível de incorporação de forma impressionante, sua performance em Suspicious Minds, Baby Let’s Play House e If I Can Dream são algumas das memoráveis. Que movimentos perfeitos! Que entrega na voz e no charme do olhar!
Esse é um protagonista complexo, cheio de camadas a serem exploradas. Assim, Butler se entrega inteiramente, sua forma genuína de expressar emoções e como ele constrói a gradativa decadência de sua figura são outros pontos que fazem ele merecer não só a indicação no Oscar, mas sim, ganhar a estatueta. Ele não vive o Elvis, ele é o Elvis. Além de estarmos vendo sua vida, estamos acompanhando um grande show carregado de força e paixão intensa, já se prepare para ver as emocionantes comparações do filme com a vida real.
O filme respeita sua figura de muitas formas. Um exemplo é a cena em que Elvis vai gravar um videoclipe cantando para um cachorro, que ele descreve como a maior vergonha de sua vida; da qual, nem sequer vemos. O próprio cuidado com os figurinos e cores é notável, nos palcos é aquela extravagância visual sem tamanho e, na vida pessoal, são cores mais dessaturadas ou o uso de alguma tonalidade específica para retratar sensações mais íntimas.
Enquanto isso, Tom Hanks constrói seu personagem de maneira mais inocente, mesmo que seja um mecanismo para esconder sua ganância perversa. Nesse sentido, o trabalho de maquiagem e próteses é impressionante; seja no próprio coronel ou no Elvis.
Uma história de muitos lados

É interessante como o filme não deixa de abordar as principais polêmicas que giravam ao redor do artista. Isso engloba as questões raciais da época e como ele era visto, trazendo discussões que o próprio público discute e apresentando muitos pontos. Então, essa história nunca esconde os conflitos que ele tinha presentes em sua vida, usando isso de base para discutir quem é o Elvis. Quais são suas inspirações? Qual é sua conexão espiritual com a música e com quem a consome? Qual era seu nível de respeito com os negros e a consciência de que seu estilo não era original?
Dessa forma, ele está inserido em muitos contextos históricos, que influenciam em sua forma de observar o mundo. É claro que, por se tratar de uma cinebiografia, existem situações que não serão tão bem aprofundadas como outras, mas o filme nos faz entender o tamanho do significado daquilo com apenas um olhar, ou um gesto, ou até uma canção. Assim, até o momento em que Elvis beija Priscilla pela primeira vez, por menor que seja, é gigante.
E mesmo que o filme seja contado no ponto de vista do coronel, ele nunca é deixado de ser mostrado como uma figura vilanesca e asquerosa. Uma das grandes sacadas do filme é nos situar logo no início do fato dele ser um ilusionista, brincando com Elvis em uma sala de espelhos. E é essa relação dos dois, que de uma parte é genuína e de outra é puramente interesseira, que dita os futuros acontecimentos, sejam positivos ou negativos.
Portanto, Elvis é aquele filme que todo mundo sempre vai se lembrar. Não é só pelo belíssimo tributo, ou as músicas super animadas e as marcas desse artista; mas é dado ao modo em que essa história foi contada de maneira tão corajosa e autêntica. Você sente o amor dos idealizadores transbordando da tela, assim de como quem está nela. Por favor, não perca a chance de ver Elvis Presley no cinema!